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#rolounarede: namoro no abrigo


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O PERIGOSO É MAIS GOSTOSO?!

Slide1O namoro entre acolhidos foi o último tema que #rolounarede, lançado por Grazielle que pediu que @s membr@s compartilhassem experiências e opiniões a respeito desta questão. Evoli foi a primeira a se pronunciar, dizendo que as regras de convivência eram firmadas por todos (crianças, adolescentes, educadores e técnicos) no SAICA em que gerenciava, e que uma dessas regras restringia os namoros dentro da casa, com vistas a evitar a exposição das crianças menores a situações inconvenientes para sua idade. “Fora da casa, no trajeto da escola, trabalho ou passeios previamente combinados não podíamos  interferir, mas definitivamente dentro da casa o namoro não podia acontecer. Esses temas polêmicos sempre foram dialogados em assembleias e esgotávamos os argumentos até se chegar a um consenso que assegurava o bem estar de todos”.
Renato trouxe um ponto de vista parecido com o de Evoli, entendendo que o namoro dentro de um espaço residencial e coletivo pode dar margem para outras interpretações. Ele defendeu que evitar os contatos físico dentro da casa é a melhor estratégia de trabalho: “Namorar é sadio, mas tem hora, tem postura e deve ter descrição. O espaço não é só deles”. Renato lembrou também que o nosso público tem muitas vezes a experiência do exercício de sexualidade precoce, e que este tema deve ser previsto no Projeto Político Pedagógico da instituição. Ele ressaltou a importância da orientação com relação ao sexo seguro e o estímulo ao auto-cuidado com o corpo.
A permissão do namoro, desde que sejam estabelecidos limites rígidos de contato físico dentro da instituição, foi autenticada pela Casa de Apoio e também por Selma. Mas nem todo pensam da mesma forma. Adriana, por exemplo, proibi terminantemente o namoro entre os acolhidos: “Sempre adotamos esta regra, orientamos claramente a todos de forma incansável. E gostaria de dizer também, que fui muito bem orientada pelo Ministério Público que tal situação não pode ocorrer dentro do abrigo”.

O fato de que “qualquer proibição radical instiga o fazer escondido” foi pontuado por Alice, que também observou que “o Ministério Público não é órgão qualificado para ditar regras de educação”. Quanto à essas, Sonia nos lembra de que “o afeto não é governável desse modo. No nosso caso, trata-se de adolescentes, fato já sabido por todos nós, os hormônios estão em alta!”. Apesar disso, ela não desiste da ideia de que deva haver regras claras quanto ao namoro no abrigo, lembrando que deve-se tomar cuidado para que a casa de acolhida não se transforme numa extensão da rua onde tudo pode, indiscriminadamente. “Não é uma questão moral, mas ensinar aos adolescentes que existem lugares para as coisas acontecerem. Eles não estão proibidos de exercitar a sexualidade, esse é um tema que precisa ser dialogado na casa e não exercitado lá dentro. Por enquanto é assim que vejo a situação, pois os adolescentes que chegam as casa de acolhida têm uma relação de respeito com o outro e consigo próprio que não os garante a dignidade. A casa de acolhida tem uma grande responsabilidade na construção dessa dignidade”. Sonia levantou a transferência como um dos caminhos a serem tomados em uma situação como essa.

Val apoia esta ideia, lembrando que a sexualidade não pode ser bloqueada, mas bem direcionada. Desta forma, apesar da transferência, haveria o consentimento com relação ao namoro: isto viabilizaria que o casal se encontrasse como todo adolescente o faz, evitando problemas futuros. Novamente, nem todos pensam da mesma forma: Bruno entende que “a transferência de um dos jovens, a princípio, é muito prejudicial. Reproduzir situação de ruptura não me parece a estratégia mais adequada à proposta de trabalho de um SAICA, a não ser que a permanência de um dos adolescentes no serviço o esteja colocando em risco e este seja o último recurso”.

Ele trouxe uma nova visão também com relação à proibição total de contato físico entre os namorados. Em sua experiência, ele ajudou os jovens a construírem limites, propondo uma reflexão do que é adequado dentro do contexto da instituição e fora dela. “Certamente que relações sexuais lá dentro não poderiam acontecer, assim como ficar se agarrando nos quartos e nos cantos da casa, mas estar abraçado ou de mãos dadas, por exemplo, não era visto como um problema”. Ele relatou também que o relacionamento mobilizou as crianças e adolescentes e também a equipe, o que deu a oportunidade para o investimento na formação dos profissionais através de palestras, reuniões e supervisão.

Mais uma profissional que passou por esta situação compartilhou a sua rica experiência, que segundo ela gerou muitas discussões sadias, conversas, diálogos e caras feias na instituição. Danielle conta que a primeira tentativa foi proibir a todo custo, o que não só não funcionou como tornou a situação mais grave, pois além do namoro não cessar, os jovens o acentuaram na presença dos educadores que mais se incomodavam com este, desafiando-os. Numa conversa com a equipe técnica, o casal assumiu o namoro e desde então atitudes condizentes com o ambiente em que vivem foram cobradas: entrar nos quartos e trocar carícias é proibido, mas há disponibilidade para passeios e momentos individuais, para conversar por exemplo. “Trabalhamos sempre na relação de confiança e a verdade, explicando que mesmo em casa também teriam regras. Eles não só acordaram mas também surgeriram regras, como um dia por semana ficar até mais tarde conversando na sala de jantar para não atrapalhar os outros que vão dormir cedo. E ainda concordaram que um cuidador vá passar pra dar uma olhadinha de vez em quando. O casal sai nos finais de semana sozinho para passear, sempre com hora e local previamente marcado. O acordo está funcionando muito bem. Quando acontece algo, o casal é responsabilizado e não um ou outro somente. Perdeu boa parte da graça do proibido e eles estão mais leves e tranquilos com relação ao namoro, ajudam mais na casa com outros acolhidos, respeitam todos…”.

Renata também conta que no abrigo onde ela trabalha há autorização de namorar aos finais de semana, dentro de certos limites, que são seguidos pelos adolescentes…  É, nossa rede é mesmo diversa e nos faz pensar! É o que coloca Maria de Lurdes para fechar (ao menos, temporariamente) a discussão:

Sou coordenadora de um abrigo e estou encontrando respostas para muitas dúvidas que rondam minha cabeça com relação a muitos assuntos que, observando nessa troca de experiências, são comuns a quase todos os abrigos. Essa questão do namoro, como sempre falo para a equipe técnica, é um dos problemas mais difíceis que eu, particularmente, já me deparei.
As sugestões encontradas aqui na rede são louváveis e nos encorajam a seguir muitas ideias já pensadas por nós e que nos deixam um tanto inseguros para colocar em prática. Parabéns a toda equipe da rede pelo empenho em achar soluções palpáveis e que trazem benefícios para o bom andamento do nosso trabalho que repercute, positivamente, no desenvolvimento das nossas
crianças e adolescentes acolhidos
”.

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Textos compartilhados nesta discussão, por Renato Fonseca

– Sexualidade e violência, o que é isso para jovens que vivem na rua?
http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n4/v15n4a09

– Representações sociais de dst/aids para adolescentes de uma instituição abrigo com experiência pregressa de vida nas ruas da cidade de goiânia
http://www.dst.uff.br/revista16-4-2004/8.pdf

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