#rolounarede: parabéns a você (s)
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UM DIA ESPECIAL?!
Como você costuma comemorar o seu aniversário? E no SAICA em que você trabalha, como se comemoram os aniversários? Foi esta discussão que #rolounarede, lançada pela Jane: “O aniversário de crianças e adolescentes acolhidos, na minha opinião, deve ser comemorado com algo marcante como: um bolo, convidar seus familiares, a equipe, e ainda se possível alguns amigos, por que não? Em nossa família comemoramos com algo marcante. Minha pergunta: vocês acham correto marcar um dia por ano para comemorar todos os aniversários? Houve um questionamento de uma adolescente acolhida para mim, eu não falei nada, mas não achei justo”.
A partir daí, muitas estratégias e práticas foram compartilhadas, acompanhadas de importantes reflexões. Cintia, por exemplo, disse que a atenção às singularidades em um serviço de acolhimento é um desafio difícil, mas que não pode ser deixada de lado. Ela disse ter conhecido abrigos em que as crianças nem mesmo sabiam a data de seus aniversários, uma vez que estes não eram valorizados pelos adultos. “Às vezes pelo grande número de crianças não é fácil fazer um a cada dia…. Mas acho razoável a ideia dos aniversariantes do mês… E sua ideia é ótima, de marcar com pessoas e situações importantes para a criança. Acontecer. Ser especial. Isso marca”, disse.
Cinthia disse que no SAICA onde ela trabalha também há um dia do aniversariante por mês, para todos os que fizeram aniversário naquele período. Mas a discussão fez com que ela refletisse, percebendo que no serviço tudo é trabalhado no coletivo, enquanto o aniversário é um dia único, próprio. “Talvez este momento possa ser repensado… Nem que seja um bolinho no dia de cada um, e a festa no coletivo. Pode ser uma maneira de valorizar a criança e o adolescente em sua individualidade”.
Ana concordou que, mesmo que simples, a comemoração individual tem um grande valor, assim como convidar a família, amigos da escola e quem mais for significativo para aquela criança. “A ideia é justamente dar um atendimento individualizado e personalizado e fortalecer os laços familiares e comunitários, evitando-se os malefícios da institucionalização. Pode-se, inclusive, envolver a próprias crianças na elaboração dos docinhos e convites, na ornamentação da festa, envolver os familiares nesta organização, aproveitar e valorizar saberes (por exemplo, uma mãe que sabe fazer bolos pode vir ao abrigo fazer o bolo de aniversário do filho e, ainda, ensinar as crianças maiores e a cozinheira do abrigo sua receita, etc)”. Para ela, a comemoração do aniversário de todas crianças em uma só data reforça a atenção massificada e impessoal.
Renato tem a mesma opinião, dando razão à adolescente que questionou a comemoração coletiva do aniversário. No entanto, a partir de suas experiências, ele também julga importante tentar preservar os hábitos anteriores ao acolhimento, promovendo a cultura de cada família e respeitando o desejo dos pais. “Certa vez na instituição estávamos organizando uma festa para um adolescente e o pai disse que não concordava, pois “nunca havia feito festa para nenhum filho e não era agora que ele concordaria com isso”. Ficamos muito revoltados com isso, mas nós estávamos equivocados. O filho não é nosso! Ele vai voltar para a família, para o pai e este não vai promover festa como o abrigo”. Ele lembrou ainda que, pautando-se nas Orientações Técnicas, o ideal seria promover os aniversários na residência e no entorno social onde a família vive. Para ele, o aniversário deve ser promovido de acordo com o que é possível para cada família organizar.
O desafio de fortalecer os vínculos com a família e comunidade de origem da criança e reforçar para os pais sua função de cuidado, afeto e proteção foi buscado através da comemoração do aniversário da criança em um abrigo que Ana conheceu. “Funcionava assim: a comemoração do aniversário era combinada com a família, que organizava uma festinha NA SUA RESIDÊNCIA, chamava os parentes, vizinhos, amigos, etc. O serviço de acolhimento apoiava materialmente a família nessa organização. No dia da comemoração, a criança passava com sua família, o aniversário era festejado de acordo com o costume de cada um. Adorei essa ideia!”. Ela lembra que há situações em que isto não é possível, mas que estas são exceções.
Nem todos concordam que a festinha de aniversário no serviço afetará a função da família; Telma sustentou que esta é uma função dividida por todos os grupos dos quais participa-se (trabalho, escola, escoteiros, etc). No SAI onde ela trabalha, os aniversários são comemorados em sua data específica, e as famílias são chamadas para participar, para organizar a festa, tudo de acordo com a personalidade do aniversariante.
Através de discussões como esta, percebemos que princípios de trabalho e práticas andam juntos, e que cada pequena ação reflete o modo da equipe pensar, os objetivo que visa atingir. Alguns profissionais disseram que iriam levar este assunto para toda a equipe e repensar a forma de se comemorar o aniversário. É, bem que a Ana Paula disse: “Como são ricos esses espaços pra melhorar nossas práticas, né?”.
Conheça mais práticas compartilhadas nesta discussão:
– “Temos um grupo de voluntários com um projeto “Parabéns a Você” em que fica estabelecido que em todo último domingo do mês eles fazem a festa de todos os aniversariantes da Instituição; com direito a presentes, decoração, bolo, docinhos, salgadinhos, palhaços, brincadeiras… É muito gratificante verificar o quanto é importante para os acolhidos o dia do aniversário ser comemorado”. (compartilhado por Doracy)
– “Aqui os aniversários são comemorados individualmente com festa! As crianças convidam sua família, amigos da escola, voluntários do Fazendo História e ex-funcionários. É um dia de festa realmente, pelo qual todos esperam ansiosamente, colocam suas melhores roupas e preparam os presentes aos amigos. Aqui também organizamos a festa de 15 anos com direito a valsa, vestido de princesa e DJ. As festas menores, nós organizamos sozinhos, já a de 15 anos conta com ajuda de colaboradores”. (compartilhado por Adriana)
– “Nós comemoramos o aniversario de cada criança individualmente. Realizamos uma festa com a participação de familiares, amigos e os convidados que a criança desejar. Normalmente o bolo conseguimos com algum voluntário ou a família nos ajuda na organização da festa. Além disso, temos um projeto voluntario que chama Dia Especial, no qual o voluntário leva a criança para um passeio (normalmente a criança escolhe o local)”. (compartilhado por Marcela)
– “No serviço onde atuo são comemorados no próprio dia ou na mesma semana quando a família se organiza e providencia a festa. Caso contrário a comemoração é realizada no final do mês, inclusive com funcionários aniversariantes, proporcionando uma visão de igualdade e entrosamento. Realizamos também outros tipos de comemorações como natal e páscoa, o que contribui muito para o estimulo dos vínculos e a familiarização do serviço”. (compartilhado por Erica)
– “Aqui na casa de acolhimento para adolescentes aproveitamos esta data para fazer uma comemoração especial e personalizada. Os adolescentes escolhem quem querem convidar para sua festa, fazem uma listinha (tendo como limite no máximo 50 pessoas) e nela incluem todos os membros da família que quiserem. Além disso, é de responsabilidade do adolescente escolher um tema para a sua festa. Dentre os temas escolhidos já tivemos por exemplo a festa do MMA, festa rosa, festa de times de futebol, festa do arco íris LGBT, festa do cubo mágico, festa do reggae, etc. Confeccionamos convites com o tema e o mapa com o endereço da casa, escolhemos um cardápio que é feito com a participação de educadores, cozinheira e adolescentes (outros jovens dão como presente para o aniversariante a ajuda tanto na cozinha, quanto na decoração). Uma voluntária faz o bolo temático e um voluntário DJ faz o som. Outro fato importante é que a Instituição dá um presente que o adolescente escolhe (com valor máximo de R$ 200,00) e ainda aproveitamos esse dia para comprar roupas novas para os acolhidos, porque roupa usada eles ganham o ano todo, e o desejo de uma roupa nova existe com certeza. Então, ele vai até uma ou mais lojas e compra uma roupa que irá usar na sua festa. Demoramos um ano para nos adaptarmos a este formato, mas agora os jovens se acostumaram a esperar seu aniversário para pedir coisas novas pro guarda roupa, porque entendem que é só nesse dia e no natal que esses presentes são possíveis”. (compartilhado por Claudia)
– “Na instituição em que trabalhei, as comemorações eram individuais, exceto quanto havia mais de um aniversário no mesmo mês. A festa era organizada junto com os acolhidos, e decoração era confeccionada por mim em parceria com os acolhidos e a pedagoga, e a última fazia também, com eles, um mural de recados para o aniversariante e no dia da festa os convidados podiam deixar suas mensagens; os acolhidos e eu fazíamos ainda os docinhos; e os demais funcionários contribuíam de acordo com suas habilidades: quem gostava de fazer bolo o fazia, quem tinha mais habilidade na confecção de salgadinhos, se responsabilizava por eles. A psicóloga e a assistente social faziam a articulação com a família. Os aniversariantes podiam convidar amigos da escola“. (compartilhado por Priscila)
Referências compartilhadas nesta discussão:
– BENTO; Rilma. 2014 em seu livro: Integração Familiar de Crianças e Adolescentes – possibilidades e desafios http://veraseditora.com.br/integracao-familiar-de-criancas-e-adolescentespossibilidades-e-desafios/ , aponta o quanto as instituições anda na contramão daquilo que deveria fazer e devemos estar atentos para não causar (des-função) na família. (sugerido por Renato)
– BEM CHEGAR, BEM ESTAR E BEM SAIR, que relata o fato da comemoração de 18 anos de um adolescente, agora adulto, e o dia seguinte é o dia de saída da instituição, portanto, um aniversário muitas vezes traumático. (sugerido por James Franco)