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#RolouNaRede: Passeios com funcionários do abrigo. Permitir ou não?


Michele Matarazzo iniciou a conversa contando que é coordenadora de uma Casa Lar recém-inaugurada em uma pequena cidade do interior de São Paulo – que ainda não tinha nenhum tipo de serviço de acolhimento. Atualmente, a Casa Lar, que é municipal, conta com 10 crianças. Michele pede a opinião dos integrantes do grupo a respeito da possibilidade dos educadores da casa saírem com as crianças para passeios diversos, em seus períodos de folga.

Ela comenta também que, por falta de incentivo do município, ainda não tem sistematizado nenhum tipo de trabalho voluntário na casa.

“Em alguns momentos específicos alguns funcionários (cuidadores que trabalham em escala 12X36 horas) pediram para, voluntariamente, levarem crianças para Igreja e passeios e eu autorizei, pensando nos benefícios para a criança. E também passeios de final de semana com a funcionária que estaria de folga e convidou a criança para ir”, disse Michele.

Verônica Almeida , coordenadora de uma unidade de acolhimento no município de Várzea da Palma-MG, comenta que na unidade, apesar de ser desenvolvido o programa de apadrinhamento afetivo, as cuidadoras também são autorizadas a levar os acolhidos para passeios. Ela ressalta, porém, que exige que as cuidadoras estejam sempre atentas durante o passeio e fala da necessidade de estar mais de uma educadora presente.

“Quando o acolhido dorme na casa de uma das funcionárias, eu comunico ao Juizado da Infância, mas libero quando é para ficar o dia. Eu acho importante esses momentos de lazer e incentivo”, concluiu Verônica.

Katia Pavan, educadora em uma casa lar, traz a sua opinião a respeito do tema: “Às vezes levamos as crianças pra nossas casas e passeios, é importante pra eles a convivência com outras realidades de família. Nunca deram trabalho”, comenta.

Renato Fonseca faz sua intervenção dizendo que é preciso pensar em alguns pontos: se todos os acolhidos têm a oportunidade de estar nesses lugares com os funcionários; se há ou não direcionamento na questão religiosa. Mas, além desses pontos, ele entende que as saídas são um momento importante no processo do cuidar.  “Acima de tudo na convivência familiar e comunitária, pois embora estejam longe das suas famílias de origem, isso não significa que não possam estar juntos, conviver e passear. Fortalecendo vínculos comunitários junto à comunidade”, concluiu.

Rosa Luiza Lima Matias, psicóloga, diz que atualmente trabalha no programa de família acolhedora e tem mais uma experiência de mais de 10 anos com acolhimento institucional e que inclusive já foi coordenadora de um serviço de acolhimento em Rio Branco, no Acre. Ela diz concorda com o que foi defendido pelo colega Renato no e-mail anterior, e completa que não vê problema algum em oportunizar a esses acolhidos um passeio e possibilitar a eles uma oportunidade de sair do serviço. Diz que isso é respeitar as vontades, conviver, conhecer pessoas e lugares e concluiu que é um direito deles ter convivência familiar e comunitária desde que estejam a salvo de perigo.

“Em relação ao fato de  estas pessoas serem funcionários dos serviços de acolhimento não tem problemas porque a relação entre eles é afetiva, mas também profissional. Então deve estar claro de que não há intenção de adoção ou guarda. Não que isso não seja possível, mas trata-se do trabalho daquelas pessoas”, defendeu Rosa.

Juca Morais escreve que, desde 2016, desenvolve um trabalho como voluntário (apadrinhamento afetivo) em um Saica na Zona Leste de São Paulo e diz que já viu algumas experiências de crianças serem levadas por funcionários para passearem e, ao retornar, essas mesmas crianças não conseguiam entender o que estava acontecendo, provocando choro e comportamentos de agressividade. “Creio que essas saídas sem uma preparação ou um projeto, e sem preparação das crianças, adolescentes e dos funcionários da casa causem mais danos que benefícios”, defendeu Juca.

Tatiana Barile, em seguida, escreve que as saídas, passeios e qualquer ação que promova a convivência familiar e comunitária são necessários e configuram como direitos das crianças e dos adolescentes. No entanto, qualquer ação proposta tem que ser fundamentada e fazer sentido dentro do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada instituição: “Quem leva pra passear? Quem leva pra casa? Os funcionários podem levar crianças para suas residências? Como combinar isso com eles?”.

Tatiana defende que as respostas para essas questões precisam ser construídas em equipe, a partir dos parâmetros que regulamentam as ações dentro de um serviço de acolhimento. A ausência dessa reflexão propicia às crianças e adolescentes a construção de relações frágeis, pautadas no assistencialismo ou nos desejos dos adultos.  E conclui: “Com relação à equipe da casa, a diferenciação entre o que é pessoal e profissional na relação com as crianças precisa ser discutida frequentemente em reuniões de equipe – não é fácil fazer essa separação quando tratamos de relações humanas e se não tivermos uma proposta bem fundamentada e acompanhada podemos gerar mistura de papéis, fantasias e frustrações”.

Simone Saraiva, assistente social de um serviço de acolhimento municipal no interior de São Paulo, questiona o que existe no Plano Político Pedagógico (PPP) da entidade sobre essa questão e diz que, se não houver um PPP, talvez fazê-lo possa ajudar a resolver esse problema.

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